quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Terra, Petrobras e reforma da Constituição precedem "Os Militares no Poder"

04/11/2010 - 18h15

Terra, Petrobras e reforma da Constituição precedem "Os Militares no Poder"

colaboração para Livraria da Folha

"A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia do anti-sindicato, ou seja, aquela que melhor atenda aos seus interesses ou aos dos grupos que eles representam. A democracia que eles pretendem é a democracia dos privilégios, a democracia da intolerância e do ódio. A democracia que eles querem, trabalhadores, é para liquidar com a Petrobras, é a democracia dos monopólios, nacionais e internacionais, a democracia que pudesse lutar contra o povo, a democracia que levou o grande presidente Vargas ao extremo sacrifício".
Não. O trecho acima não foi extraído de nenhuma fala dos candidatos à Presidência da República nas últimas eleições. Trata-se de uma parte do discurso feito pelo então presidente João Goulart, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 1964, pouco antes de os militares tomarem o poder. E está no livro "Os Militares no Poder" (Nova Fronteira), escrito pelo jornalista Carlos Castello Branco, testemunha ocular da história.

Reprodução
Livro conta as circunstâncias que levaram os militares ao poder
Livro conta as circunstâncias que levaram os militares ao poder

Reunidas pela primeira vez em 1977, em três volumes lançados pela Nova Fronteira com o título "Os Militares no Poder", as colunas de Castelinho ganharam uma reedição. A análise deste conturbado momento da história do Brasil, feita pelo principal jornalista político do país durante duas décadas pode ser conferida por uma nova geração de leitores. Publicado em um único volume, "Os Militares no Poder" mostra um recorte temporal de um momento nebuloso, pouco explorado e pouco conhecido deste período, que vai do golpe que depôs o presidente João Goulart à edição do ato institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968. O livro, com prefácio do jornalista Merval Pereira, traz ainda o texto "Da conspiração à revolução", em que Castelinho analisa os antecedentes do golpe, um encarte de fotos e um apêndice com diversos documentos da época, incluindo o discurso de João Goulart dois dias antes do golpe e a íntegra do AI-5.
Era 25 de março de 1964. Almoçavam em Fortaleza, Ceará, o general Humberto Castello Branco e o deputado Bilac Pinto, futuro chefe da oposição e pouco depois chefe da UDN. O Brasil vivia um clima de tensão, a economia estava descontrolada, existia uma polarização ideológica, além de um choque entre Executivo e Legislativo. Entre os militares, sentia-se uma agitação. Havia também uma agitação provocada pelos sindicatos e do Comando Geral dos Trabalhadores, além de quebra de hierarquias nas Forças Armadas.
Um ano antes, o deputado Leonel Brizola assinou prazo ao Congresso Nacional para votar as reformas de base, sob ameaça de, em caso contrário, ir procurar em outros caminhos a solução da crise brasileira. Foi quando começou a pregação ostensiva da revolução.
No começo, de acordo com Castelinho, a ideia teve apoio das classes médias, e inclusive da grande imprensa. Mas, pouco a pouco, o regime foi perdendo esse apoio tornando-se crescentemente impopular.
Asilado na Embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro, em 1964, o líder estudantil José Serra leu indignado o livro "Os idos de março e a queda em abril", reportagens de oito dos mais prestigiados jornalistas da época, que relatavam os acontecimentos políticos desde o comício da Central do Brasil, no Rio, a 13 de março, até 15 dias depois do que Serra considerava um golpe militar contra a democracia.
No comício da Central, João Goulart pregava a necessidade das reformas de base. Foram 65 minutos de discurso. Goulart anuncia que que havia assinado um decreto que encampava todas as refinarias particulares de petróleo e outro que desapropriava e destinava à reforma agrária terras em torno de ferrovias e rodovias federais e pedia reforma urgente da Constituição, 'acima da qual está o povo'.
Na mesma noite do comício, Brizola sugeriria como "única solução" pacífica o fechamento do Congresso e a formação de uma assembleia constituinte, formada por "camponeses, operários, muitos sargentos e oficiais nacionalistas".

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